sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O CRIME COMPENSA?


            O crime compensa? Se formos analisar seguindo a cartilha da igreja, da escola e das famílias, o crime não compensa, mas na vida real da delinqüência depende de quem é julgado e de quem julga, ou de quem não julga, pois segundo uma pesquisa da USP de Ribeirão Preto (SP) somente 3% dos processos para investigar roubos chegam ao fim. E mesmo assim, depois de um longo, tortuoso e burocrático caminho, quando finalmente a justiça põe a mão no meliante, quase sempre a pena não vale o delito, ou seja, vale à pena roubar.
            Talvez seja culpa de nossa legislação anacrônica que apesar dos remendos não tem acompanhado a evolução das relações sociais do país, especialmente as sutis estratégias do crime, seja organizado ou não. Percebe que as penas de multa, devolução de dinheiro roubado, desvios propinas, etc., quando aplicadas têm caráter tributário, isto é, para o infrator funciona como um imposto, uma taxa devida sobre a transação (roubo) e que sempre é inferior ao montante do negócio. Cumprida esta exigência, o meliante encontra-se remido, pronto para delinqüir novamente, pois quem escapa impune, ou quase, na primeira infração dificilmente resiste à tentação de reincidir.
            Há, por assim dizer, uma espécie de condescendência social com o roubo, muitas vezes critica-se em público a ação do ladrão, mas admira-se o carro importado que o mesmo sente orgulho em ostentar (e como fazem questão de se mostrar), fecha-se os olhos para  a fonte dos recursos mas não se constrange em participar de uma mesa de bebidas regadas a vinhos e uísques caros, financiada com dinheiro da bandidagem. Cria até um sentimento de cobiça, principalmente na juventude, ao ponto de crianças externarem aos incrédulos e inocentes pais que quando crescerem “querem ser como eles”.

            Aqui vai o que penso, sem falsa modéstia, ser uma contribuição aos operadores do Direito, juízes, advogados, legisladores, etc. Nada pode ser mais constrangedor para um “amigo do alheio” do que ser flagrado trabalhando, principalmente numa atividade que não lhe renda os tufos de dinheiro. Então porque em vez de multa ou porque não complementar a multa com serviços forçados em hospitais, asilos e similares sempre tão carentes de mão de obra? Garanto que nestas circunstâncias a juventude jamais o invejava nem as crianças tentariam copiá-los.    

sábado, 2 de novembro de 2013

ERA PARA SER SÓ UM CADASTRO

Dia destes resolvi preencher um cadastro que há dias uma empresa do ramo de vendas pela internet havia disponibilizado em meu e-mail. Na verdade, talvez por falta de tempo ou interesse eu viesse protelando a iniciativa. Só neste dia, como não me apareceu nada melhor para ocupar o tempo abri o formulário e me dispus a postar os dados solicitados. Primeiro deles, o nome, é sempre o nosso nome que eles querem conhecer primeiramente. Grafei: – Francisco das Chagas Canuto. Como disse estava com tempo sobrando e por isso comecei a refletir o porquê de terem me dado o nome de um santo tão popular quanto internacional, tendo influenciado, inclusive, o nome do atual Papa.Esta história eu conheci sempre. Desde que me entendi por gente ouvi de minha mãe e de outros familiares a saga que foi minha chegada a este mundo, sadio e... Bem, diziam: “o importante é que tenha vindo com saúde”. Antes de mim, que sou o primogênito, minha mãe tivera três abortos e já não acreditava que tivesse sucesso na quarta gestação quando uma idéia lhe surgiu como se enviada dos céus. Católica que era, “agarrou-se” com São Francisco das Chagas, prometendo que faria uma viagem a pé até Canindé, num percurso de mais de duzentos e cinqüenta quilômetros antes mesmo do nascimento do filho e que se este fosse homem por-lhe-ia o nome de Francisco das Chagas. E foi assim que visitei Canindé a bordo de uma barriga e me tornei herdeiro do nome do Santo de Assis.Prosseguindo com o cadastro, agora pediam que eu definisse meu sexo. Cliquei naquela setinha do campo do formulário e me apareceram duas opções: “masculino” e “feminino”. Para minha comodidade não tive problema nenhum em escolher um dos dois, mas fiquei deveras curioso para saber o que fariam alguns amigos meus, tendo que escolher entre duas opções sobre cujas especificidades não têm afinidade alguma. Penso que marcariam qualquer opção, indiferentes ao resultado já que nenhuma lhes representa. Semelhantemente age o eleitor que é obrigado a escolher entre dois ou três candidatos cujas ideologias são diametralmente opostas às suas.Não sei como pode ser útil saber qual religião professa o cadastrado, mas foi exatamente isto que tive que informar, e aí sim, tenho dúvidas. Se pudesse teria dito simplesmente – não sei. Ou então - não tenho. Explico: como ficou evidenciado no episódio de minha gestação, nasci sob os auspícios da Santa Madre Igreja Católica, em cujo templo fui batizado e crismado. Levado por minha mãe assisti a missas e outras cerimônias religiosas onde ouvia atentamente as instruções para evitar o inferno e alcançar a vida eterna ao lado do Todo Poderoso, no Paraíso. Também li algumas publicações editadas pela Igreja, incluindo passagens bíblicas e confesso que quanto mais eu ouvia, quanto mais eu lia sobre o assunto mais dúvidas eu tinha, ao ponto de na adolescência negar peremptoriamente a existência de Deus.Especulei sobre outras religiões, cristãs e não cristãs e em cada uma delas  encontrei mais dúvidas do que respostas, sempre achei que se houvesse um Deus, Este não precisava de padre ou pastor para servir de intermediário entre nós, nunca pude conceber o Deus raivoso e vingativo descrito na bíblia. As coisas começaram a clarear quando ingressei na maçonaria, não que esta fosse uma religião, mas porque é condição primeira e absoluta que o candidato tenha crença em um Deus (Grande Arquiteto do Universo), independente de religião para ingressar em seus quadros. Daí tive contato mais direto com a Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec onde à luz da razão encontrei muitas respostas para questões que as religiões tradicionais não convenciam ao tentar elucidá-las.Não tenho certeza se sou Espírita, já que a Doutrina não tem rito de batismo ou de iniciação e nem freqüento um Centro ou grupo de estudos. Talvez, pretensiosamente, por me identificar muito com os ensinamentos de Kardec me autoproclamo ESPÍRITA. Que me perdoem os que pensam o contrário, noutra encarnação haveremos de concordar.