Hoje pela
manhã, enquanto aconteciam os protestos de moradores de Novo Oriente contra a
transposição das águas do Açude Flor do Campo para a vizinha cidade de Crateús,
inclusive com o bloqueio da rodovia que liga as duas cidades, nós, eu e alguns
amigos conversávamos sobre a possibilidade de vir a se concretizar a abertura
das comportas do açude e também sobre a manifestação de pessoas contrárias à
medida, quando alguém quis saber se era necessário algum tipo de autorização
para que os manifestantes pudessem fechar a estrada. Imediatamente lembrei-me
de um artigo que li, do advogado e professo de Direito Constitucional da
PUC-SP, Pedro Estevam Serrano, onde ele diz que “democracia e liberdade
implicam perturbações e até mesmo um nível tolerável de transgressões”.
Não pretendo
responder a pergunta do meu amigo e nem tão pouco comentar as declarações do
Dr. Serrano, pois me faltam conhecimentos jurídicos pata tal, todavia a
democracia que defendo me permite emitir algumas opiniões despretensiosas a
respeito. Primeiro penso que estes movimentos populares se constituem no único
canal legítimo de reivindicação que as massas dispõem, embora não seja legítima
a privação do direito de ir e vir dos demais atores. Ganha importância na
proporção em que os poderes constituídos tomam conhecimento da força que tem o
povo com certo nível de organização, é, enfim, o amplificador da voz popular,
pois como dia o Rappa “Paz sem voz não é paz é medo”.
É uma arma de
que dispõe o povo para fazer valer seus direitos, A última, eu acho, pois
existe outra, primária, legítima, sem qualquer contestação no mundo democrático
que é o voto, o sufrágio universal, como se diz no linguajar eleitoral.
Acontece que esta arma é quase sempre desvirtuada ou mesmo usada contra os
interesses dos que a possuem. Esquecemos
que quando falamos de voto a quantidade é infinitamente mais importante do que
a qualidade, isto porque na urna a identificação do eleitor não pode ser
revelada, restando que o voto do médico tem o mesmo peso do voto do gari ou do
desempregado. Trazendo para nossa realidade não podemos comparar os nossos
vinte e poucos mil votos com os mais de setenta mil de Crateús onde tanto Nenem
Coelho como Domingos filho armaram suas arapucas e esperam capturar os incautos
eleitores da “Príncipe Imperial”, muito embora a isca seja arrancada a ferro e
fogo do açude Flor do Campo.
E porque
estamos falando de voto se o foco é água, transposição e protestos? Por isso
mesmo, são temas que envolvem política e políticos. Políticos que foram eleitos
com nossos votos, nossas armas, e que agora se voltam contra nossos interesses,
um tiro no pé. Talvez por aí dê para avaliarmos se valeu à pena aquele saco de
cimento, aquele milheiro de tijolos e até mesmo aqueles cem reais que recebemos
para votar naquele determinado candidato.