quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

LAGOA DOS NERES


O  QUE  RESTOU  DA  LAGOA  DOS  NERES      -      AINDA DÁ TEMPO


             A localidade de “Lagoa dos Neres”, distante 20 quilômetros da sede do município de Novo Oriente, deve seu nome a uma antiga família que viveu na região, associado a uma lagoa que por muitos anos foi o único manancial onde o rebanho e o povo de uma área relativamente grande mataram a sede. A família, segundo registros, teria habitado a região, pelo menos, a partir da segunda metade do século XVII e desaparecido ainda no século XVIII. A lagoa, estudos geológicos comprovariam que está lá há milhares de anos e certamente continuaria lá, não fora a interferência negativa do homem nas últimas cinco décadas.
                Lembramo-nos que na década de 60, quando garotos e tomávamos banho nas águas límpidas da lagoa, éramos sempre vigiados por adultos, pois havia o risco de afogamento, uma vez que sua profundidade era presumida entre 2,5 metros e 3 metros. A preocupação era pertinente. Tanto era que por estes tempos morreu uma pessoa adulta, afogada, quando tentava atravessar a nado de uma margem à outra. Seu corpo só foi encontrado horas depois com auxílio de vários mergulhadores experientes.
                Nem bem se passaram 50 anos e hoje a lagoa não é nem sombra do que foi no passado. Sua extensão que outrora desafiou hábeis nadadores, ora não passa de poucos metros. O que chamaríamos de lâmina d’água (na verdade uma mistura indefinida de água, lama e restolho de tronco e galho de árvore) na parte mais profunda não atinge 70 centímetros. E se nada for feito, daqui a poucos anos não restará nem sinal do que um dia foi um lago imponente, chegando a emprestar seu nome para a localidade.

                                      

PEDREIRA CRIMINOSA  -  FALTA FISCALIZAÇÃO

                No entanto, não é necessário ser especialista no assunto para detectar a raiz do problema. Mesmo um olhar leigo comprovará que o desmatamento das encostas dos morros ao longo dos cinco ou seis quilômetros à jusante do riacho “Bom Sucesso” (assim chamado o pequeno rio que abastece a lagoa) é o principal responsável pelo assoreamento do reservatório. A situação tende a se agravar substancialmente a partir das próximas chuvas, pois uma grande quantidade de terra está sendo removida das referidas encostas em conseqüência da exploração de uma pedreira concentrada exatamente no leito do riacho. Temos dúvidas da existência de uma licença ambiental para o empreendimento.  
                Houve no passado um acordo tácito entre os proprietários de terras da comunidade. Todos tinham consciência que por tratar-se de um reservatório natural, ninguém se intitulava dono da lagoa, nem mesmo aqueles que por sobre as águas passavam seus domínios. Era um bem da natureza e assim deveria ser de utilidade para todos. Houve no passado, dissemos nós, pois no presente, esquecidas do acordo, algumas pessoas encompridaram seus quintais até o leito seco da lagoa. Até mesmo construção de moradias ameaça invadir áreas onde em outros tempos eram domínio das águas.
                Gostaria muito de que no futuro nossos filhos pudessem banhar-se nas águas da lagoa, como fizemos um dia, e dissessem orgulhosos para seus filhos: “Aqui está a lagoa que emprestou seu nome para nossa comunidade”. Depende de nós, ainda dá tempo! 


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